quinta-feira, 8 de abril de 2010

CARTA DE SOLIDARIEDADE AO RIO - Ariovaldo Ramos

Aos cariocas e fluminenses

Ariovaldo Ramos

Bom dia Rio de Janeiro e Niterói e demais fluminenses, sou um paulistano que as amo, inclusive, minha filha mais velha, nasceu em Niterói. É a preciosidade fluminense que carrego na vida e que aquece o meu coração.

O que, entretanto, me leva a dirigir-lhes a palavra é outro tipo de identificação, infelizmente, nada prazerosa: o sofrimento frente ao caos pluvial, resultado das chuvas torrenciais e do tipo de cidade em que vivemos.

Nossa forma de construir cidade é desastroso, e, em momentos como esses, somos tragados por nossos erros de urbanização, se a urbe, já não for, em si, um erro.

Sei que não há consolo possível diante do caos, sei da angústia de andar com a água pela cintura, do desespero de ver tudo, literalmente, indo por água abaixo, do medo do que possa ter acontecido com os filhos, com os parentes, com os entes queridos. E do horror de perder alguém de forma tão estúpida.

Nao! Não há consolo possível. Nessa hora, retoma-se a coragem, fertiliza-se a esperança, e a gente retoma a vida, mas consolo… Difícil!

Porém, deixem-me dizer-lhes algo: vocês têm mais prefeito e mais governador do que nós: nosso prefeito e nosso governador sumiram durante e depois dos quarenta e sete dias em que fomos afligidos pelas águas, e por nossa forma de construir cidade. Ninguém os achava e quando foram achados nada tinham a dizer, e tudo o que disseram não deveriam ter dito. Vossos prefeitos e governador fizeram até o presidente do país aparecer, fizeram-no convocar o país para uma homenagem respeitosa aos seus mortos, os nossos só são e serão sempre lembrados por nós. O orgulho e a vaidade de nossos ausentes líderes mantiveram o Brasil afastado de nós, como se não fossemos brasileiros e como se não precisássemos de, ao menos, a solidariedade de um gesto de carinho.

Vocês têm mais imprensa do que nós: os seus jornalistas cobriram, cassaram os políticos, os expuseram, fizeram-nos se explicarem até onde isso é possível, diante de um cataclismo, denunciaram, forçaram-nos a repensarem a cidade, e a gente já ouve propostas que, claro, serão alvo de muita discussão, como tem de ser, mas há proposicões. Nossa imprensa encobriu os nossos omissos líderes; quando os entrevistaram, fizeram-nos passar por cavalheiros mais consternados do que nós, que a tudo perdíamos, quando não nos fizeram engolir um gosto de culpa por sermos a causa de nossa própria desgraça, principalmente, os pobres.

Claro, isso não é consolo! Mas, uma coisa é saber que todo o país está com a gente, que bem ou mal, o prefeito está com o uniforme da defesa civil. Outra coisa e ver o demais brasileiros falando do que está acontecendo com a sua cidade como se fosse uma cidade situada em uma outra nação qualquer, dessas que a gente, de vez em quando, contata via mídia. Uma coisa é ver o presidente vindo a nós, reconhecendo a importância da gente para a nação que ele governa, outra é ver o presidente tentar se aproximar e nem seguer receber resposta à sua intenção, como se o Brasil nos fosse estranho ou, pior, fossemos estranhos ao país.

Minha solidariedade aos cariocas e fluminenses, e, acima de tudo, o meu respeito.

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