segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Comunhão portenha - Por Revista Cristianismo Hoje

Aquele último culto, num domingo de 2007, foi marcado pela desolação dos membros. Às vésperas de fechar as portas, o líder da pequena igreja pentecostal escreveu um e-mail para o colega Norberto Saracco pedindo oração.


A congregação perderia seu templo em Buenos Aires, a capital argentina, a menos que pagasse o equivalente a 25 mil dólares para resolver um processo legal de longa data em relação à propriedade. Parecia não haver saída, pois o valor equivalia a quase um ano de arrecadação da igreja. Saracco, da Igreja Boas Novas e integrante do Conselho de Pastores da cidade, fez as orações pedidas e algo mais. Ele enviou a seguinte resposta: “Não podemos permitir que uma igreja feche em Buenos Aires”. Dois dias depois, pastores de várias denominações haviam doado o dinheiro necessário. “Quando dizemos que há somente uma Igreja em Buenos Aires, estas são as consequências”, explica Saracco. “Se queremos uma Igreja forte na cidade, cada igreja local tem que ser forte também”.

As palavras do religioso expressam o espírito daquela que é hoje, talvez, a maior experiência de unificação de igrejas de uma grande cidade em todo o mundo. Em um país sem forte tradição evangélica, a Igreja argentina tem visto uma iniciativa pouco comum: uma tentativa de unificação.

Não se pretende montar uma única megaigreja onde todos congreguem, mas sim, resgatar um conceito bíblico simples, o da unidade em Cristo. “Toda vez que o Novo Testamento fala da igreja em uma cidade, como Éfeso ou Corinto, é sempre no singular, não no plural”, diz Carlos Mraida, pastor da Primeira Igreja Batista do Centro de Buenos Aires. “Entretanto, quando o Novo Testamento fala de liderança em uma cidade, é sempre no plural. A igreja é singular, mas a liderança é plural”.

Pluralidade tem sido mesmo a palavra de ordem entre cerca de 150 igrejas evangélicas da Grande Buenos Aires, um aglomerado urbano com 13 milhões de habitantes. Desde que foi montada, a entidade tem atraído cada vez mais líderes. Os pastores reúnem-se mensalmente para orar, confraternizar, traçar planos de ação comum e, se for o caso, socorrer-se mutuamente. Não é preciso abrir mão das próprias convicções, nem existe qualquer patrulhamento teológico. Pentecostais convivem com históricos na maior harmonia. “Estamos de acordo apenas sobre os elementos centrais, como a Trindade, a morte de Jesus na cruz e sua segunda vinda, por exemplo”, explica Juan Pablo Bongorrá, pastor da Igreja Portas Abertas. Os quase 200 membros do Conselho de Pastores de Buenos Aires continuam a divergir sobre temas como o divórcio, batismo pelo Espírito Santo e formas de realizar o culto. “Aceitamos a diferença como uma riqueza. Seria ruim se todas as igrejas fossem iguais. Imagine se Deus tivesse criado apenas um tipo de flor, como isso seria chato”, compara.

Ao invés disso, as igrejas ligadas ao órgão estão fazendo trocas importantes. “Hoje, as igrejas mais tradicionais estão ajudando as congregações avivadas a fazer mais trabalhos sociais, e estas incentivam aquelas a realizar mais trabalhos evangelísticos”, explica o pastor, que é um dos cinco dirigentes do Conselho. O resultado é uma força conjunta capaz de influenciar mais a sociedade argentina, já que conselhos semelhantes têm se reproduzido em outras regiões do país. Foi assim em novembro do ano passado, quando os evangélicos uniram-se para confrontar o governo e o legislativo na questão do casamento gay, e na recente crise econômica do país. “O mais importante é a mentalidade de que a unidade é um processo contínuo, não um evento”, acredita Mraida.

Reconciliação – Inicialmente, os crentes portenhos – como são conhecidos os moradores da cidade – tentaram iniciar um movimento de unidade após a cruzada que o evangelista americano Billy Graham realizou ali, em 1962. Anos depois, outra cruzada, desta vez do pregador Luis Palau, em 1977, encetou algumas iniciativas naquela direção, mas sem sucesso. Não que houvesse contenda entre os crentes – “as igrejas aqui nunca foram hostis ou competitivas”, garante o pastor Bongorrá –, mas cada igreja estabelecia e perseguia seus próprios objetivos. Um novo espírito de unidade surgiu no início dos anos 1980, quando centenas de cidades formaram conselhos de pastores, alguns com mais de mil membros. O de Buenos Aires foi montado em 1982 por Bongorrá, Saracco e Mraida, junto com o carismático pastor Jorge Himitián e o ministro batista Pablo Medeiros. “O ponto de partida foi criar e desenvolver a amizade entre os pastores”, diz Saracco, “já que é mais fácil unir pessoas do que denominações”.

Uma das primeiras ações do grupo foi a reconciliação sobre os erros do passado recente. A Argentina engatinhava na redemocratização, após a sangrenta Guerra Suja da década anterior, período em que os militares governaram o país com mão de ferro, e o trauma do conflito contra o Reino Unido pela posse das ilhas Malvinas. “O tumulto político no país criou uma profunda divisão entre as igrejas que defendiam os direitos humanos e aquelas que permaneceram em silêncio”, diz Saracco. O ponto alto foi um grande evento no qual o Conselho pediu aos dois lados para perdoarem um ao outro em frente aos 250 mil congregados. O ato teve um efeito purificador.

Quando ficou claro que uma estrutura formalizada, com cargos tradicionais e instâncias administrativas, levaria o grupo à inação, os pastores optaram por outra tática. “Mudamos a mentalidade”, lembra Bongorrá. “Resolvemos trabalhar como igreja e nos concentrar nos dons espirituais”. O movimento de unidade logo mudou o foco da ideia de uma simples comunhão entre pastores para o conceito de “igrejas ajudando igrejas”. Quando uma Igreja Anglicana foi forçada a encerrar seu programa de Escola Dominical em 2008 por falta de professores, levando a um êxodo de famílias, a congregação pentecostal liderada por Saracco enviou quatro voluntários para executar um programa de educação bíblica. Noutra ocasião, um pastor do subúrbio pediu socorro porque o colégio que a igreja mantinha estava na bancarrota. Em resposta, o Conselho uniu-se para pagar dívidas com impostos e salários dos professores.


A estrutura flexível é considerada uma das chaves para o sucesso. Outra é ter algo para fazer em unidade. “Durante muitos anos, não tínhamos um projeto comum”, diz Bongarrá. “Agora, os pastores estão se juntando cada vez mais a nós – porque é bom orar juntos e ter um bom tempo de comunhão –, mas, também, porque as pessoas estão mais felizes por terem algo para fazer em unidade, um objetivo comum”. O trabalho do Conselho da capital tem chamado a atenção. A Aliança Cristã de Igrejas Evangélicas da República Argentina (Aciera) fez uma convocação para que todos os conselhos de pastores de outras cidades e províncias do país comparecessem a um evento no Seminário Batista de Buenos Aires em abril. Ali, os pastores portenhos falaram de sua experiência.

“Paradigma bíblico” – Mas o desafio é grande. Embora num ritmo bem menor que o brasileiro, as igrejas também estão crescendo numericamente na Argentina. Hoje, a quantidade de evangélicos do país chega a 3 milhões de pessoas (pouco menos de 10% da população), a maioria, pentecostais. “Apesar disso, o Reino de Deus não tem sido estabelecido”, preocupa-se o pastor Carlos Mraida. “A cidade fora dos muros da igreja está muito pior em quase todos os quesitos espirituais e seculares”, reconhece. Ele conta que, ao longo de seus 24 anos de ministério, viu que, quando cada um cuida de fazer só o próprio trabalho, o avanço é modesto. “Jesus disse que uma única exigência para vermos o avivamento é que sejamos um, a fim de que o mundo creia, conforme João 17. Temos que voltar a um paradigma bíblico.”

Nos últimos quatro anos, Mraida tem convidado pastores de diferentes denominações para servir mensalmente a Ceia do Senhor na sua congregação. Ele mesmo já foi beneficiário da mutualidade que ajuda a fomentar. Quando a Igreja Batista que dirige estava construindo um novo santuário, a Igreja Visão do Futuro, do pastor Omar Cabrera, localizada a apenas 10 quarteirões, contribuiu com 70 mil pesos (cerca de R$ 35 mil em valores de hoje) para compra de cimento. “Indagaram-me porque estávamos ajudando a construir outra igreja tão perto de nós”, lembra Cabrera. “Respondi simplesmente que estávamos no mesmo time”.

Ultimamente, as prioridades do Conselho de Pastores têm sido a oração e a evangelização. Em junho de 2008, a entidade organizou a primeira campanha de 40 dias de oração, encerrada com uma vigília de três noites ao ar livre, em frente ao Congresso do país. Ano passado, a coisa se repetiu, e em 2010 estendeu-se para cinquenta dias, a partir da Páscoa. Agora, está em pleno andamento uma mobilização para que os crentes portenhos assumam uma responsabilidade espiritual por sua cidade. Voluntários concordaram em orar por cada um dos 12 mil quarteirões da Região Metropolitana.


Periodicamente, eles percorrem as ruas distribuindo folhetos e falando de Jesus aos moradores.

Hoje, o Conselho já possui sete mil quarteirões cobertos por voluntários de 100 igrejas locais, e os pastores estão confiantes de que, até o fim do ano, toda a Grande Buenos Aires estará debaixo de oração e ação evangelística. Outra campanha promove os valores cristãos através da veiculação de mensagens temáticas, tendo como base o slogan “A Argentina que Deus quer é possível com Jesus Cristo”. A cada duas semanas, as mensagens são divulgadas através de jornais, rádios, outdoors e panfletos. Muitos pastores reforçam os anúncios atrelando seus sermões ao tema de cada semana.

Os custos são cobertos por um pool de igrejas dirigidas pelos pastores do Conselho. As congregações têm sido tão entusiastas que as ofertas para o órgão – normalmente inferiores a dois mil pesos por mês – totalizaram a espantosa quantia de 750 mil pesos (R$ 375 mil) em cinco meses.

Originalidade – O último exemplo de evangelização unificada de toda a cidade foi o envio, em fevereiro deste ano, de missionários para a África do Norte, representando toda a Igreja de Buenos Aires. Trata-se de uma outra inovação, já que até então os obreiros transculturais eram enviados por igrejas locais ou agências missionárias. “Esse envio unificado é um modelo para viabilizar a obra missionária e torná-la possível para a realidade econômica da América Latina”, elogia o presidente internacional da Cooperação Missionária Iberoamericana (Comibam), David Ruiz. “O sucesso em Buenos Aires vem em um momento em que os grupos tradicionais de unidade da América Latina – como a Confraternidade Evangélica Latinoamericana e o Conselho Latinoamericano de Igrejas – estão em vias de extinção ou perda de relevância.”

Atual diretor-adjunto Comissão de Aliança Missionária Evangélica Mundial, Ruiz acredita que o Conselho de Buenos Aires é um órgão muito original. “A maioria das alianças evangélicas estão enfrentando uma crise de identidade, e esta entidade está trazendo uma alternativa para a unidade da Igreja no continente”. O líder teológico René Padilla, presidente emérito da Fundação Kairós de Buenos Aires, diz que a iniciativa representa o novo. Embora reconheça a importância do trabalho, ele observa que sua influência ainda não se faz sentir fora da cidade. “Ainda existem grandes divisões entre os grupos de igrejas principais e conservadoras”, aponta. “Há sinais encorajadores de pessoas se relacionando entre as denominações, mas ainda há um longo caminho a percorrer”.

Contudo, Norberto Saracco e seus companheiros de ministério parecem não ter pressa. “A nossa visão e nossa tarefa são uma questão de fé. Estamos conscientes das nossas diferenças hoje, e sabemos que possivelmente não veremos o fim delas durante a nossa vida Talvez isso demore cem, duzentos ou 300 anos, não sabemos. Mas Abraão foi o pai da fé porque acreditou, não porque viu”, observa.

Se queremos uma Igreja forte na cidade, cada igreja local tem que ser forte também?

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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Israel quer permitir adoção por homossexuais - por Agência EFE

JERUSALÉM - Um comitê do Ministério de Assuntos Sociais israelense estuda a possibilidade de reformar a lei para estender a adoção a casais do mesmo sexo, informou à Efe seu porta-voz, Nachum Ido.


A lei israelense só permite a adoção a casais heterossexuais, mas a Corte Suprema permitiu recentemente que várias lésbicas pudessem cuidar de crianças maiores de dois anos. Estes casais de mulheres receberam crianças rechaçadas por muitos candidatos para adoção, porque seus pais tinham um passado conflituoso ou porque não eram recém-nascidos, explicou Ido.

- Nossa experiência do acompanhamento destes casais de lésbicas em sua adoção é que foram muito boas mães - assegurou o porta-voz do Ministério liderado pelo trabalhista Issac Herzog. O comitê, formado há dois anos, mas que ficou paralisado após a renúncia de seu presidente anterior, começará a analisar nas próximas semanas a possibilidade de reformar a lei ou que a Corte Suprema aprove a adoção a casais do mesmo sexo, que por enquanto limitou a lésbicas e para crianças maiores de dois anos.

Ido precisou neste sentido que outro comitê no Ministério da Justiça estuda as implicações legais de uma eventual reforma. Embora faça parte dos trabalhos do comitê de seu Ministério, o porta-voz considerou mais complicado o caso dos homens, porque apenas um casal do sexo masculino procurou a adoção.

Reportagem por Agência EFE